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Razão e Sensibilidade

  • Bruna Januzzi Ilario
  • Apr 26, 2016
  • 3 min read


Este não será um post com uma resenha sobre o romance de Jane Austen, mas confesso que este título sempre me cativou, despertando diversas reflexões e agora serve perfeitamente para intitular um problema com o qual me deparo constantemente na vida e no consultório, o que me faz imaginar que seja a raiz de muitos sofrimentos psíquicos: a enorme e poderosa relutância em aceitar alguns (ou muitos) dos nossos próprios desejos e sentimentos. Na verdade e obviamente eu não sou a primeira a imaginar que essa relutância cause tantos sofrimentos, pois mortais não tão reles quanto eu já dedicaram muito de seu tempo para nosso presente assunto, entre eles, Sigmund Freud. Porém, me deparo com a ainda forte presença dessa problemática latejando nos dias de hoje, inclusive, causando a ausência mais latejante ainda da aceitação e tranquilidade dos indivíduos ao se reconhecerem como portadores desses conteúdos de uma forma ou de outra banidos.

Esse conteúdo de fantasias e emoções gera culpa, vergonha e por conseguinte uma variada gama de defesas egoicas que o usurpam da nossa consciência.


Citando alguns desejos, pensamentos e sentimentos tão evitados: "inveja da amiga Falsiane" (ou de qualquer outra pessoa), "raiva da avó tão dedicada e carinhosa" (ou de qualquer outro), "devanear que está transando com outra mulher mesmo amando sua esposa", entre outros.


Pois então, para continuar, devo dizer que desconfio que o que está servindo de reforço para tamanha relutância seja uma espécie de moda que aborda modos de pensar, filosofias de vida e cia. propagados através de meios de comunicação que focam o tema "pensamento positivo" ou "controle dos seus pensamentos". Bom, a intenção é boa e pode ser útil desde que saibamos de alguns aspectos de nosso psiquismo antes de aplicá-la. A seguir, irei organizá-los a partir do exemplo da "inveja":


a) Todos sentem inveja e, através da obra da psicanalista austríaca Melanie Klein, podemos constatar que isso ocorre desde a mais tenra idade ;


b) Você pode considerar racionalmente que inveja seja um sentimento ruim (e ele é realmente mal visto em nossa sociedade), mas seu poder racional não muda o fato de que você sente inveja. Entretanto, pode abafar a ideia de que esse sentimento está dentro de você, silenciá-la e bani-la para as profundezas do seu inconsciente através de mecanismos de defesa, entre eles o tão falado e incompreendido recalque. Mas não se engane! Sua própria inveja não se conforma jamais em ficar inofensivamente presa. Ela irá lhe fazer visitas durante seus sonhos, se fará vista no outro que você acusa injustamente de ser invejoso, se fará sentir através daquele sentimento de culpa que você não sabe de onde vem e tanto te atormenta;


c) Sentir inveja não faz de você alguém ruim, infeliz, fracassado... Não! Mas negar essa inveja pode fazer, pois a sua falta de autoconhecimento causa ignorância, confusão, medo e mais uma porção de coisas ruins que causam terrível sofrimento. Sim! Esse sofrimento sobre o qual falei lá em cima;


Podemos concluir que se a inveja não faz de você alguém ruim ou passível de lamentação, o que você faz com sua inveja FAZ! Caso você prefira pensar e sair por aí se vangloriando de que não sente inveja não vai poder fazer nada com algo considerado inexistente por você.

Ao sabermos reconhecer nossos sentimentos, no caso os menos nobres, nos tornamos menos ignorantes, mais autoconscientes e ativos ao lidar com essas questões que nos atormentam e nos deixam envergonhados. Devemos procurar compreendê-las, descobrir de onde vem, seus motivos, saber como lidar com elas.


Precisamos nos dar o direito de sentir o que sentimos. As regras do nosso psiquismo não são as mesmas regras do exterior. Permita-se cultivar seu próprio espaço psíquico, sua individualidade. Esse espaço não vai fazer mal a ninguém enquanto estiver respeitando seu limite e esse respeito só é possível se estivermos familiarizados com esse território, se nos dermos a liberdade de conseguir prazer com fantasias que seriam incompatíveis com o lado de fora. Caso contrário, como em um jardim abandonado e tomado pela força da natureza, essas fantasias poderosas e ignoradas se descontrolarão, invadirão perigosamente o terreno do vizinho e se tornarão destrutivas. Às vezes, isso acaba acontecendo mesmo com alguém que procura conhecer bem seu terreno, pois é humanamente impossível ser perfeito, mas a vida pode ser feita ao buscarmos equilíbrio, tentarmos nos conhecer cada vez melhor para nos respeitarmos e sermos aptos para respeitar o próximo.

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